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A Eleição e as Pesquisas

Eleições e pesquisas caminham juntas. Muitos eleitores, contudo, duvidam. Pensam que na melhor das hipóteses elas se descolam da realidade que ele vê e sente, na pior, prestam-se a manipulações.

Eu, ao contrário, acredito nas pesquisas e gosto delas. Contudo, precisamos saber como interpretá-las.

Uma crítica usual baseia-se na comparação entre os levantamentos realizados e o resultado da eleição. Para o crítico, o fato de uma pesquisa não predizer com certeza quem vence, quem perde e o número de votos de cada candidato seria prova de sua fragilidade. Essa pesquisa existe sim, é a de “boca de urna”, mas é realizada apenas no dia da votação. Dada a velocidade do nosso TSE, são pouco úteis de fato.

Pesquisas, na verdade, retratam o momento, mostram trajetórias de comportamento de eleitores, funcionam como sequências de fotos que terminam por gerar um filme. Em alguns casos os eleitores movem-se lentamente, em outros, súbitas variações ocorrem. Pesquisas também ajudam a descobrir os temas que preocupam os eleitores – e acabam por direcionar as mensagens dos candidatos.

É usual ouvir que a pesquisa não reflete o que “eu estou vendo”. Da mesma forma criticam-se os índices de inflação, pois para o consumidor esses são sempre menores do que a inflação que ele “viu no supermercado”. O que acontece, de fato, é que uma pesquisa afere o que o “eleitor brasileiro” pensa – caso estejamos falando da eleição presidencial. Mas esse “eleitor brasileiro” é uma abstração, uma figura imaginária composta por características que refletem a diversidade do eleitorado no país.

Uma pesquisa de intenção de voto para presidente deve criar uma abstração que consiga reunir todas as características que determinam o comportamento eleitoral. Entre nós, por exemplo, costuma-se considerar a região de residência do eleitor, sua escolaridade, faixa de renda, de idade e também o gênero. Por vezes ainda se considera a religião do eleitor. Se fôssemos um país como Botswana, ou outros países africanos, deveríamos considerar a qual tribo o eleitor pertence, e se estivéssemos na Bélgica, a língua falada pelo eleitor, já que o país conta com três grupos diferentes de falantes que têm prioridades políticas próprias.

As pesquisas, assim, são úteis quando conseguem sintetizar um eleitor “padrão” da região que escolherá o candidato (o eleitor estadual, para o governador; o eleitor brasileiro, para o presidente). Do conjunto de pesquisas vai se criando uma imagem maior e mais confiável, pois várias pesquisas que apontam numa mesma direção nos dão mais certeza de seu acerto que qualquer pesquisa individual – daí a criação dos “agregadores” de pesquisa.

Por fim, um detalhe não trivial refere-se à própria influência das pesquisas nos resultados que elas tentam prever. Ocorre, por exemplo, que ao predizer uma eleição apertada, a pesquisa acaba por deslocar eleitores que praticam o voto “útil”, e isso influencia o próprio resultado que ela tentava prever.

Pesquisas não são infalíveis, mas ajudam muito.

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